O mecanismo serve como reposição do poder de compra da moeda e afeta diversos mercados.
A correção monetária é um fenômeno bastante presente no cotidiano do brasileiro. Ela afeta diversos setores e mercados da economia, desde salários até o mercado imobiliário, por exemplo.
Criado em 1964, o mecanismo foi bastante presente sobretudo no período de hiperinflação entre os anos 1980 e 1990.
Hoje, a correção monetária é aplicada com menor frequência, mas ainda existe, inclusive muitas despesas sofrem correção monetária por força da lei. Por isso é fundamental conhecer o que é e como funciona esse fenômeno.
Correção monetária: marca da instabilidade
A correção monetária é também chamada de atualização monetária ou indexação. Como o nome já indica, uma correção nos preços da economia.
Essa correção ocorre devido ao aumento na quantidade de dinheiro, causado pelo governo. Quando o estado emite moeda para financiar suas despesas, o dinheiro acaba perdendo valor.
Como resultado, os preços dos bens tendem a aumentar, fazendo a mesma quantidade de dinheiro comprar cada vez menos bens.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o real já perdeu cerca de 85% do seu poder de compra desde 1994. Ou seja, R$ 100 de 1994 comprariam apenas R$ 15 em valores atuais.
Devido a esse processo, o brasileiro tende a ficar mais pobre com o tempo. Por isso que existe a correção monetária. Seu objetivo é eliminar, ou pelo menos amenizar, a perda de poder de compra da moeda ao longo do tempo.
Principais indicadores
Os indicadores que servem para fins de correção monetária também são chamados de indexadores. Portanto, quando algum preço sofre atualização conforme determinado indicador, diz-se que este preço está indexado àquela taxa.
Conforme destacado no início do texto, a correção monetária surgiu em 1964. Naquele ano, também foi criado o primeiro indexador, chamado de Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional (ORTN). Esse indexador media o valor de créditos específicos.
Naquele período, a inflação brasileira chegava a ter taxas de crescimento de dois dígitos ao mês. No auge da hiperinflação dos anos 1980, o Brasil chegou a registrar inflação superior a 100% ao ano.
Ou seja, o dinheiro perdia poder de compra diariamente, desestimulando a realização de qualquer investimento. Afinal, as pessoas corriam para gastar o dinheiro que recebiam antes que este perdesse valor.
A criação desse indexador visava proteger os investidores da inflação brasileira — que já era alta naquele período. Uma vez estabelecida a proteção, o governo visava atrair mais investidores para o Brasil. Afinal, a indexação supostamente reduziria os impactos da perda do poder de compra.
Com a evolução do mercado, e principalmente com o fim da hiperinflação, os indexadores foram reformados. Atualmente, os dois principais indicadores de correção monetária são a taxa Selic e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — este também serve como o índice oficial de inflação no Brasil.
Além dos indicadores amplos também existem outros mais específicos. Por exemplo, o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), que costuma servir para a correção monetária dos aluguéis no mercado imobiliário.
Há também o Índice Nacional da Construção Civil (INCC), pelo qual são corrigidos os preços de materiais de construção e mão-de-obra.
Como funciona a correção monetária?
Utilizar a correção monetária não é um processo complexo. De fato, ela pode ser aplicada até mesmo em situações cotidianas, como no exemplo de uma feira doméstica.
Imagine uma família que dispõe de R$ 300,00 no seu orçamento para comprar itens básicos: feijão, arroz, gás, entre outros.
No entanto, os preços desses produtos foram corrigidos pela inflação do período, que foi, por exemplo, de 10% ao longo do ano.
Neste caso, as despesas subiram para R$ 330,00. Ou seja, caso os rendimentos da família não sofram correção de pelo menos 10%, os R$ 300,00 disponíveis não serão suficientes para arcar com essas despesas. Neste exemplo, a família viu seu dinheiro perder poder de compra.
Porém, a correção monetária também pode afetar os investimentos. Imagine uma pessoa que possui R$ 1.000,00 aplicados em um título que rende 5% ao ano, mas a inflação chegou a 10% em determinado ano.
Ao final do período, o investidor teria R$ 1.050,00 aplicados na conta. Mas como a inflação cresceu 10%, ele teria que ter pelo menos R$ 1.100,00 apenas para manter seu poder de compra. Logo, o investidor perdeu dinheiro nesta aplicação.
Nas últimas décadas, a hiperinflação foi debelada e caiu para níveis mais próximos da normalidade. Mesmo assim, o real ainda registra queda no poder de compra ao longo dos anos, o que mantém vivo o mecanismo de correção monetária tanto para consumidores quanto para investidores.